Medicina Antroposófica
Em Portugal, a Associação para a Medicina Antroposófica - a AMA é a instituição responsável pelo ensino, pesquisa e divulgação dessa prática médica.
Ampliação da medicina segundo os princípios da ciência espiritual - ANTROPOSOFIA fundada por Rudolf Steiner
Rudolf Steiner (1861-1925)
Rudolf Steiner foi um filósofo que nasceu dentro das fronteiras do antigo Império Austro-Húngaro, em 1861. Dedicou-se essencialmente à 'Teoria do Conhecimento', uma área que na sua época ocupava intensamente os filósofos europeus e também os cientistas, em termos de conhecimentos objetivos e os desenvolvimentos que estavam a acontecer, principalmente no campo da física.
Para Rudolf Steiner e outros pensadores da sua época era um conflito ver como a 'Teoria do Conhecimento' se identificava com uma imagem científica do mundo, quando esta por sua vez, se identificava com a imagem que a física fazia do mundo. Mas acaso essa imagem era válida para a biologia? Essa pergunta levou Steiner a procurar diretamente as personalidades que sobressaíam no campo da pesquisa em biologia, tentando encontrar aí os elementos que o levassem a reconhecer, ou não, uma especialização na Teoria do Conhecimento, quando esta era aplicada aos fenómenos dos organismos vivos.
Rudolf Steiner reconheceu essa diferenciação na metodologia proposta pela Teoria do Conhecimento na forma como o poeta alemão Johann Wolfgang von Goethe fazia as suas pesquisas no campo da botânica e da zoologia. A sua primeira tarefa foi publicar a Obra Científica de Goethe, o que ninguém tinha feito até então. A partir desses trabalhos metodológicos iniciais, durante o século XX, diversas personalidades do mundo científico tentaram aplicar essa metodologia na prática da pesquisa científica, o que levou a um desenvolvimento extraordinário em determinadas áreas da biologia e, consequentemente, à aplicação desses métodos, dentro do possível, também na medicina.
Ita Wegman (1876 - 1943)
Ita Wegman nasceu em Java, Holanda. Fez os seus estudos de medicina na Suíça, formando-se em 1911. Em 1917 conclui a sua especialização em Ginecologia. Foi a personalidade que ajudou a introduzir os trabalhos de Rudolf Steiner na medicina, com o objetivo de ampliar o método científico. No ano de 1917 começa a usar um medicamento elaborado a partir de uma planta, Viscum Album, no tratamento de pacientes com neoplasias malignas, exatamente a partir dos conceitos ampliados pela Medicina Antroposófica.
Em 1921 funda a primeira clínica na cidade de Arlesheim, perto de Basileia na Suíça. A partir de 1923 escreve, em conjunto com Rudolf Steiner, um livro fundamental para a Medicina Antroposófica. Em 1925 funda uma Escola de Enfermagem e, em 1926, publica a primeira revista de Medicina Antroposófica: a Revista Natura. Em 1931 abre o Centro de Estudos Médicos em Berlim e funda o Instituto de Pedagogia Curativa em Hamborn-Alemanha. Em 1932 abre um Centro de Estudos Médicos em Londres.
Em 1936-1937 funda a 'Casa de Cura Andréa Cristóforo' em Ascona, Suíça - dedicada a pessoas convalescentes, e o Instituto La Motta, em Brissago, Suíça, para crianças com necessidades especiais. Em 1936 abre uma Escola de Pedagogia Curativa em Paris. Visitou quase todos os países da Europa, levando sempre o estímulo para o desenvolvimento de iniciativas que fossem portadoras dos impulsos terapêuticos ligados à Medicina Antroposófica. Esta intensa atividade apenas foi interrompida com o início da Segunda Guerra Mundial.
Ita Wegman foi uma pessoa com enorme capacidade de ação e uma grande universalidade de espírito. Médicos jovens e estudantes de medicina viam nela um modelo a imitar no relacionamento médico-paciente. Os seus estudantes interrogaram-na sobre a humanização da medicina e, com essa pergunta, dirigiu-se a Rudolf Steiner, iniciando-se assim um trabalho conjunto, cujo fruto é o que hoje conhecemos como Medicina Antroposófica.
A imagem do homem
Os conceitos fundamentais - A imagem do homem segundo a Antroposofia
Segundo a Antroposofia, cada elemento, substância e ser vivo à face da Terra fazem parte de um conjunto harmónico que respira como um verdadeiro cosmo vivo. Este cosmo possui um aspecto sensível, visível e mensurável com o qual nos relacionamos através dos nossos sentidos e que compreendemos racionalmente através da nossa ciência académica, mas possui também um conjunto de forças não visíveis, o seu aspecto imaterial ou suprassensível. Para a Ciência Espiritual de Rudolf Steiner esse campo suprassensível é tão real e passível de ser estudado quanto o mundo material. O ser humano ocupa uma posição muito peculiar dentro dessa cosmovisão. Ele é considerado uma imagem condensada desse mundo ao seu redor. Um microcosmo em permanente interação com o macrocosmo material e espiritual.
Os três pólos constituintes do Homem ou Trimembração
Quando contemplamos o corpo humano, podemos perceber três partes bem distintas: cabeça, tronco e membros. Por detrás dessa aparente simplicidade esconde-se, no entanto, um dos grandes segredos da arte antroposófica de curar. Para um médico antroposófico, o ser humano é um organismo trimembrado. Se aprofundarmos nessa direção, ao observarmos a cabeça vemos que nela predominam os processos neurais e sensoriais. Através da cabeça, a maioria dos estímulos sensoriais penetra no cérebro. Outra característica da cabeça é que os seus ossos têm formas planas e arredondadas situando-se na periferia, protegendo o cérebro. No polo oposto encontram-se o abdómen e os membros, predominando uma intensa atividade metabólica. Os ossos, nesse polo, são longos e retilíneos e encontram-se protegidos pela musculatura, dando-lhes sustentação. Entre essas duas regiões de características tão distintas encontra-se o tórax que, na Medicina Antroposófica, abriga o equilíbrio entre as polaridades descritas, sendo a sede do sistema rítmico, que promove a inter-relação saudável entre o polo neuro sensorial e o polo metabólico. Aí encontram-se órgãos rítmicos: coração e pulmões. E assim, resumidamente, temos um homem trimembrado nos seus sistemas neuro sensorial, rítmico e metabólico. Na vida psíquica, essa trimembração pode ser identificada por três atuações básicas: pensar, sentir e agir.
Os Quatro Elementos Constituintes do Ser Humano ou Quadrimembração
Uma das maneiras de apresentar o homem à luz da Antroposofia é relacionando-a com a natureza à sua volta. Nessa abordagem, o homem é visto como um ser que compartilha semelhanças com os reinos mineral, vegetal e animal, mas que também se distingue deles pela presença da sua autoconsciência. Podemos dizer que o homem guarda em si todos esses reinos, sendo portador de quatro estruturas essenciais, de quatro elementos constituintes, também chamados de "corpos" no jargão médico-antroposófico.
Corpo físico: estrutura sólida, material, palpável e mensurável, sujeita às leis da gravidade, do peso, da física e da química. É o corpo que compartilhamos com os minerais. É uma estrutura totalmente inerte e morta quando não permeada pelo segundo elemento (corpo etérico).
Corpo Etérico ou Vital: forças responsáveis por todo o princípio da vida, seja nos vegetais, animais ou seres humanos. O corpo vital dá-nos a possibilidade de desenvolvermos a vida vegetativa: crescimento, regeneração e reprodução.
Corpo Astral (corpo anímico ou alma): forças da consciência, presentes nos reinos animal e humano que formam o fundamento para uma vida sensitiva. Tem um papel de "organizador" dos processos vitais e, de maneira didática, podemos dizer que se manifesta como sistema nervoso e vida psíquica.
Organização para o Eu (espírito): elemento característico do ser humano que o distingue dos demais reinos e seres da natureza. É responsável pela regência saudável dos demais corpos e pelo aparecimento do andar ereto, da fala e do pensar. É a nossa individualidade, a nossa entidade espiritual. Relaciona-se com os processos de calor no âmbito do organismo.
As etapas do desenvolvimento Humano ou Biografia Humana
Uma das grandes contribuições da Antroposofia para a Medicina e a Psicologia é o aprofundamento do estudo das leis biográficas. Se observarmos o ser humano no seu processo de desenvolvimento, veremos que este se dá em ciclos de sete anos, marcados por acontecimentos significativos no campo biológico ou psicológico. Do nascimento até aos sete anos de idade assistimos a profundas transformações relacionadas com o crescimento e o desenvolvimento neuro psicomotor. A mudança da dentição e o início da alfabetização, por volta dos sete anos, marcam essa mudança de ciclo. Aos catorze anos a maioria dos jovens atingiu a puberdade, marcando um amadurecimento biológico e, aos 21 anos, procuram geralmente a independência da sua família, tendo já alcançado a maioridade. E assim, a alma humana vai transformando-se juntamente com o seu corpo físico-biológico à medida que a sua individualidade se vai aprofundando no seu caminho pela Terra. Compreender o processo de saúde e de doença significa compreender o momento biográfico, as suas crises e os seus frutos.
Terapias antroposóficas
Uma terapia antroposófica pode utilizar medicamentos de preparo homeopático especial receitados pelo médico e diversas outras terapias complementares de acordo com a necessidade do paciente.
Em Portugal temos as seguintes terapias complementares: Euritmia terapêutica, Quirofonética, Arteterapia, Estudo Biográfico, Psicoterapia, Massagem Pressel, Psicopedagogia método extralesson, Psicomotricidade, Terapia de regulação do tónus muscular (Rotaterapia) e osteopatia sacro-craniana.